Itelvino Jahn expõe suas obras no Aeroporto Salgado Filho.
O artista realiza sua produção aproveitando madeira de árvores localizadas em áreas urbanas e rurais, mortas naturalmente ou por intempéries, ou que tenham sido retiradas por representarem algum tipo de risco.
A mostra pode ser conferida no horário de funcionamento do aeroporto. A entrada é franca e fica até meados de outubro.
Dia 5 de Sembro de 2014, na Galeria Tina Zappoli.
Na Zero Hora de 05/set/2014
Repleta de ousadia e diversidade, Gato mia, cachorro late, ego mata terá vernissage no dia cinco de setembro, sexta-feira, às 19h. A provocação que motivou o título da mostra coletiva é “o ego mata”. E mata o quê? A crítica de arte Paula Ramos define que talvez seja o mais simples: a chance de olhar para o lado e perceber que o outro, com aquilo que lhe é próprio e singular, pode ser um continente, e que somos construídos pelo convívio e compreensão das diferenças e pluralidades. Sérgio Lucena, um dos artistas participantes da mostra coletiva, destaca ainda que essa é uma reflexão muito oportuna à nossa época. E fugindo de um conceito ‘egocêntrico’, a exposição coletiva reúne pinturas, papéis, fotografias e esculturas de artistas brasileiros que trabalham com linguagem contemporânea. As obras são de artistas paulistas como Anete Ring, Felipe Cretella, Klaus Mitteldorf, Lorena Hollander, Antonio Hélio Cabral e Sergio Lucena; das catarinenses Dirce Korbes e Juliana Hoffmann; e de gaúchos como Fernanda Chemale, Fernanda Valadares, Itelvino Jahn, Marinho Neto, e Roger Monteiro. Obras de Maria Lídia Magliani e Iberê Camargo também compõem a mostra. Serão exibidas aproximadamente 45 obras que dialogam entre si sobre o contemporâneo, muitas delas bem ousadas, e que irão fazer o público refletir e olhar duas vezes para o lado. Gato mia, cachorro late, ego mata estará em cartaz entre setembro e novembro de 2014 e promete movimentar a cena das artes visuais na cidade neste segundo semestre. Confira a lista completa dos artistas participantes.
(texto – agenda DAS ARTES)
Começava a década de 80 quando conheci aquele que viria a ser o meu mestre, o pintor Flávio Tavares. Generosidade sempre foi a marca do Flávio, ele abriu-me a porta do mundo, eu entrei, ele mostrou-me caminhos trilhados e disse-me: para o artista só o próprio caminho é válido. Flávio acreditou que eu poderia encontrar meu caminho, e estava certo.
Nesta época, costumava visitar o professor Hermano José Guedes, levava minhas primeiras pinturas para dele ouvir algo que iluminasse o caminho. Numa ocasião, ele falou: o artista só começa a pintar depois dos cinquenta anos. Eu tinha pouco mais de dezoito, aquilo me pareceu absurdo. Hoje compreendo, assim como Flávio, Hermano também estava certo.
Eu dedico esta exposição a Flávio Tavares e a Hermano José Guedes, dois grandes mestres e amigos que me ensinaram ver que tudo está certo, como sempre esteve.
Sergio Lucena São Paulo, 08 de agosto de 2014.
Horizonte comum
Júlia Lima
“A pintura catalisa um estado”: é assim que Sérgio Lucena descreve sua prática artística. Estar frente a uma de suas telas torna-se uma experiência sensorial, mexe com o corpo, com a mente. É possível ser transportado para os mais distintos lugares, estados de espírito, de consciência. A cor, a luz e o volume da tinta envolvem o espectador numa atmosfera potencialmente subjetiva e transformadora, que oferece a possibilidade de mergulhar e envolver-se em si mesmo, e numa nova percepção da realidade. Enfrentar esse mergulho é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que desperta lembranças e experiências passadas, também nos aponta ao novo e ao desconhecido.
Horizonte comum apresenta o percurso da produção de Sérgio Lucena, do início de 2004 até uma nova fase que se iniciou em 2012, atravessado por digressões que permitem conhecer amplamente os esforços do artista em seu constante enfrentamento com a pintura. Com algumas obras inéditas, a mostra investiga os diferentes espaços que o exercício artístico ocupa: seja a pulsão por esgotar as possibilidades da cor sobre a tela; sejam os desafios de criar luz a partir da tinta preta; seja a disputa sutil entre figuração e abstração presentes em momentos-chave de sua obra. Esses momentos são marcados pela dedicação exaustiva à temática da paisagem, buscando novos modos de olhar o mesmo cenário que encarava enquanto criança no Sertão da Paraíba. No entanto, seus interesses recentes vão mais longe e concentram-se na tentativa de compor atmosferas que imprimam no público um estado singular de consciência e presença.
Os trabalhos pictóricos do início de sua carreira – parte surrealistas, parte regionalistas, parte barrocos – traziam um universo fantástico e assombroso, povoado de animais míticos e rebuscados. No entanto, Lucena saltou, como num movimento pendular, do rebuscamento barroco ao extremo da pintura abstrata. É nesse momento em que passa a apurar a fatura e a técnica para elaborar imagens indiciais de paisagens e cenas marinhas, empregando uma outra palheta de cores, outra pincelada e ocupando-se, assim, de outro universo. Notável, no entanto, é o denominador comum a toda sua produção. Há uma luminosidade inerente a todo trabalho. O que sempre interessou ao artista não eram primeiramente as formas e as figuras, mas sim a cor e a luz. Natural que, com o esgotamento do expediente da ilustração e da narrativa, viesse o abandono da figuração. Logo mudaram seus procedimentos perante a tinta e a tela, em pinturas erguidas laboriosamente com infinitas sobreposições de camadas de tinta, na busca pela luminescência. É a partir de então que se revela o fascínio de Lucena pela matéria, não apenas pelo prazer palpável da lida com as tintas, mas também por uma ânsia alquímica de combinar elementos para alcançar um resultado quase mágico. Esse interesse pelo misticismo, antes presente na figuração, permeia agora as imagens misteriosas que cria.
As pinturas, assim, são intensos e rigorosos experimentos de um cientista da arte que, por meio do exercício repetitivo de aplicar e retirar tinta, oferece a possibilidade de experiência subjetiva. Sérgio ainda pinta como o menino no Sertão da Paraíba que subia em uma pedra e olhava para o mundo. Infinitas pedras, infinitos horizontes.
4 setembro – 12 outubro 2014
Aberta ao público de terça a domingo, das 14 às 20h
Usina Cultural Energisa
Avenida Juarez Távora, 243 – Torre João Pessoa – PB
(83) 3221.6343 | 3221.4985
www.premioenergisaartesvisuais.com.br
www.premioenergisaartesvisuais.blogspot.com
www.sergiolucena.net
QUANDO: 05/09/2014 a 28/11/2014
ARTISTAS: ANETE RING, CABRAL, DIRCE KÖRBES, FELIPE CRETELLA, FERNANDA CHEMALE, FERNANDA VALADARES, IBERE CAMARGO, ITELVINO JAHN, JULIANA HOFFMANN, KLAUS MITTELDORF, LORENA HOLLANDER, MAGLIANI, MARINHO NETO, ROGER MONTEIRO e SERGIO LUCENA.
Ter uma opinião excessivamente positiva dos próprios feitos e qualidades pode ser armadilha, e o Livro do Eclesiastes, atravessado por debates dessa ordem, já no princípio anuncia: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec, 1,2). Mais que um tema judaico-cristão, trata-se de um assunto de interesse moral, cujos desdobramentos nos lançam à própria condição humana, construída a partir de intensas negociações do homem com o sagrado, e do homem consigo mesmo, conhecer de suas múltiplas conquistas, mas também de seus limites. Nesse ínterim, o desejo de distinção, fama e reconhecimento assombra, e mesmo pensadores menos soberbos e mais reservados podem dever às voltas com uma conclusão como a de Gustave Flaubert (1821-1880), de que “[…] a vaidade é a base de tudo, e de que finalmente o que chamamos de consciência é apenas vaidade interior.”
Alquebrados, estamos de volta à provocação que motivou este pequeno texto: o ego mata. E mata o quê? Talvez o mais simples: a chance de olhar para o lado e perceber que o outro, com aquilo que lhe é próprio e singular, pode ser um continente, e que somos construídos pelo convívio e compreensão das diferenças e pluralidades.
Paula Ramos | Critica de arte, professora-pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS