Sergio Lucena – Horizonte comum

26 de agosto de 2014

Começava a década de 80 quando conheci aquele que viria a ser o meu mestre, o pintor Flávio Tavares. Generosidade sempre foi a marca do Flávio, ele abriu-me a porta do mundo, eu entrei, ele mostrou-me caminhos trilhados e disse-me: para o artista só o próprio caminho é válido. Flávio acreditou que eu poderia encontrar meu caminho, e estava certo. 

Nesta época, costumava visitar o professor Hermano José Guedes, levava minhas primeiras pinturas para dele ouvir algo que iluminasse o caminho. Numa ocasião, ele falou: o artista só começa a pintar depois dos cinquenta anos. Eu tinha pouco mais de dezoito, aquilo me pareceu absurdo. Hoje compreendo, assim como Flávio, Hermano também estava certo.

Eu dedico esta exposição a Flávio Tavares e a Hermano José Guedes, dois grandes mestres e amigos que me ensinaram ver que tudo está certo, como sempre esteve.

Sergio Lucena São Paulo, 08 de agosto de 2014. 

Pintura no 26, Óleo sobre tela | 180x180cm | 2011

AnteriorPróximo

Horizonte comum

Júlia Lima 

“A pintura catalisa um estado”: é assim que Sérgio Lucena descreve sua prática artística. Estar frente a uma de suas telas torna-se uma experiência sensorial, mexe com o corpo, com a mente. É possível ser transportado para os mais distintos lugares, estados de espírito, de consciência. A cor, a luz e o volume da tinta envolvem o espectador numa atmosfera potencialmente subjetiva e transformadora, que oferece a possibilidade de mergulhar e envolver-se em si mesmo, e numa nova percepção da realidade. Enfrentar esse mergulho é paradoxal, pois ao mesmo tempo em que desperta lembranças e experiências passadas, também nos aponta ao novo e ao desconhecido.

Horizonte comum apresenta o percurso da produção de Sérgio Lucena, do início de 2004 até uma nova fase que se iniciou em 2012, atravessado por digressões que permitem conhecer amplamente os esforços do artista em seu constante enfrentamento com a pintura. Com algumas obras inéditas, a mostra investiga os diferentes espaços que o exercício artístico ocupa: seja a pulsão por esgotar as possibilidades da cor sobre a tela; sejam os desafios de criar luz a partir da tinta preta; seja a disputa sutil entre figuração e abstração presentes em momentos-chave de sua obra. Esses momentos são marcados pela dedicação exaustiva à temática da paisagem, buscando novos modos de olhar o mesmo cenário que encarava enquanto criança no Sertão da Paraíba. No entanto, seus interesses recentes vão mais longe e concentram-se na tentativa de compor atmosferas que imprimam no público um estado singular de consciência e presença.

Os trabalhos pictóricos do início de sua carreira – parte surrealistas, parte regionalistas, parte barrocos – traziam um universo fantástico e assombroso, povoado de animais míticos e rebuscados. No entanto, Lucena saltou, como num movimento pendular, do rebuscamento barroco ao extremo da pintura abstrata. É nesse momento em que passa a apurar a fatura e a técnica para elaborar imagens indiciais de paisagens e cenas marinhas, empregando uma outra palheta de cores, outra pincelada e ocupando-se, assim, de outro universo. Notável, no entanto, é o denominador comum a toda sua produção. Há uma luminosidade inerente a todo trabalho. O que sempre interessou ao artista não eram primeiramente as formas e as figuras, mas sim a cor e a luz. Natural que, com o esgotamento do expediente da ilustração e da narrativa, viesse o abandono da figuração. Logo mudaram seus procedimentos perante a tinta e a tela, em pinturas erguidas laboriosamente com infinitas sobreposições de camadas de tinta, na busca pela luminescência. É a partir de então que se revela o fascínio de Lucena pela matéria, não apenas pelo prazer palpável da lida com as tintas, mas também por uma ânsia alquímica de combinar elementos para alcançar um resultado quase mágico. Esse interesse pelo misticismo, antes presente na figuração, permeia agora as imagens misteriosas que cria.

As pinturas, assim, são intensos e rigorosos experimentos de um cientista da arte que, por meio do exercício repetitivo de aplicar e retirar tinta, oferece a possibilidade de experiência subjetiva. Sérgio ainda pinta como o menino no Sertão da Paraíba que subia em uma pedra e olhava para o mundo. Infinitas pedras, infinitos horizontes. 


 

4 setembro – 12 outubro 2014

Aberta ao público de terça a domingo, das 14 às 20h

Usina Cultural Energisa

Avenida Juarez Távora, 243 – Torre João Pessoa – PB

(83) 3221.6343 | 3221.4985

www.premioenergisaartesvisuais.com.br

www.premioenergisaartesvisuais.blogspot.com

www.sergiolucena.net

 

Contato

Erro: Formulário de contato não encontrado.