Gato mia, cachorro late, ego mata
15 de agosto de 2014
QUANDO: 05/09/2014 a 28/11/2014
ARTISTAS: ANETE RING, CABRAL, DIRCE KÖRBES, FELIPE CRETELLA, FERNANDA CHEMALE, FERNANDA VALADARES, IBERE CAMARGO, ITELVINO JAHN, JULIANA HOFFMANN, KLAUS MITTELDORF, LORENA HOLLANDER, MAGLIANI, MARINHO NETO, ROGER MONTEIRO e SERGIO LUCENA.
Ter uma opinião excessivamente positiva dos próprios feitos e qualidades pode ser armadilha, e o Livro do Eclesiastes, atravessado por debates dessa ordem, já no princípio anuncia: “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec, 1,2). Mais que um tema judaico-cristão, trata-se de um assunto de interesse moral, cujos desdobramentos nos lançam à própria condição humana, construída a partir de intensas negociações do homem com o sagrado, e do homem consigo mesmo, conhecer de suas múltiplas conquistas, mas também de seus limites. Nesse ínterim, o desejo de distinção, fama e reconhecimento assombra, e mesmo pensadores menos soberbos e mais reservados podem dever às voltas com uma conclusão como a de Gustave Flaubert (1821-1880), de que “[…] a vaidade é a base de tudo, e de que finalmente o que chamamos de consciência é apenas vaidade interior.”
Alquebrados, estamos de volta à provocação que motivou este pequeno texto: o ego mata. E mata o quê? Talvez o mais simples: a chance de olhar para o lado e perceber que o outro, com aquilo que lhe é próprio e singular, pode ser um continente, e que somos construídos pelo convívio e compreensão das diferenças e pluralidades.
Paula Ramos | Critica de arte, professora-pesquisadora do Instituto de Artes da UFRGS